O que é e como funciona a DBT? (Terapia Comportamental Dialética)

Marsha Linehan. Fonte: Google

Esse texto tem como objetivo fazer um apanhado geral do que é a DBT, como surgiu e como é aplicada em seu modelo padrão.

A Terapia Comportamental Dialética (DBT, do original Dialectical Behavioral Therapy) é uma abordagem psicoterápica fundamentada na análise do comportamento, na filosofia dialética e na prática Zen Budista, que, baseada nos princípios de aceitação, mudança e dialética, tem como objetivo tratar problemas de saúde mental, proporcionar alívio diante do sofrimento psicológico e ajudar na construção de uma vida plena (Leonardi, 2018).

Desenvolvida por Marsha Linehan nas décadas de 70/80 como tratamento de comportamentos suicidas e autolesivos, a DBT, que é uma terapia cognitivo comportamental, foi reconhecida como o padrão-ouro no tratamento do Transtorno da Personalidade Borderline e, recentemente, tem sido estendida para outros quadros clínicos, como transtornos alimentares, dependência química, depressão maior e adesão a tratamentos médicos, além de ter sido adaptada para crianças e adolescentes com problemas comportamentais severos (Leonardi, 2018).

Partindo disso, a DBT é, em certa medida, uma caixa de ferramentas que favorece a auto-observação, a compreensão das funções das emoções e a utilização de recursos tanto para a prevenção/antecipação de episódios de sofrimento emocional intenso quanto de regulação emocional quando ela se faz necessária (falarei sobre regulação e desregulação emocional em outro texto aqui do blog).

Quando utilizada em seu modo Padrão (Standard), a DBT consiste em uma combinação de psicoterapia individual, treinamento de habilidades em grupo, coaching por telefone e uma equipe de consultoria para os terapeutas. Esses aspectos serão abordados com mais detalhes a seguir.

A psicoterapia individual é o núcleo que organiza todo o processo de tratamento: auxilia o paciente a controlar crises, ajuda na compreensão das funções do seu próprio comportamento, monitora comportamentos que trazem prejuízo, auxilia na aplicação de habilidades, auxilia o paciente a modificar seu próprio ambiente, entre outras, tudo isso com um olhar individual e específico, levando em conta a realidade daquele indivíduo.

A meta geral do Treinamento de Habilidades em DBT é ajudar os indivíduos a modificar padrões comportamentais, emocionais, interpessoais e de pensamento associados com os problemas na vida (Linehan, 2018). É realizado paralelamente à terapia individual, e de modo geral, é realizado semanalmente com duração média de 02 horas, passando por 4 módulos de habilidades: Mindfulness, Efetividade Interpessoal, Regulação Emocional e Tolerância ao Mal-estar. Também é possível (ainda que não seja o ideal) treinar habilidades básicas (como as voltadas para momentos de crise emocional) nas sessões de terapia individual, como forma de contribuir com o aumento do repertório comportamental até que as habilidades possam ser aprendidas com mais afinco no cronograma do Treino.

Já o coaching telefônico, a grosso modo, serve como um apoio extra do terapeuta individual realizado por meio de ligações breves com objetivos diversos como: a) manejar comportamentos de risco; b) ajudar no manejo de crises; c) auxiliar no uso de Habilidades e d) contar boas notícias/fomentar a relação terapêutica.

Por fim, o Grupo de Consultoria é uma equipe de terapeutas DBT em que todos se auxiliam mutuamente tanto com os casos clínicos em si como com relação à postura e expertise do terapeuta. É regido pela máxima: “uma comunidade de profissionais de saúde mental que que cuida de uma comunidade de pacientes”.

Assim, a DBT integra um tratamento complexo, completo e regido por princípios, de forma a auxiliar nos processos de desregulação emocional que tem sido associado a uma variedade de problemas de saúde mental decorrentes de padrões de instabilidade emocional, no controle dos impulsos, nos relacionamentos interpessoais e na autoimagem (Linehan, 2018).

Quem é Marsha Linehan?

Marsha Linehan, é psicóloga, autora, professora e criadora da DBT. Nascida em 05 de maio de 1943, foi internada aos 17 anos na Hartford Clinic, em Connecticut. Já bem jovem, ela autoagredia-se constantemente, queimava seus pulsos com cigarros, e cortava-se com qualquer objeto afiado que estivesse ao alcance. Lá ela foi diagnosticada com esquizofrenia, tratada com medicações, inúmeras sessões de análise freudiana, e inclusive com eletroconvulsoterapia! Sua vontade por morrer só aumentava, e ela frequentemente voltava para seu quarto de isolamento, passando 26 meses hospitalizada. [1] “Eu estava no inferno (…) e fiz uma promessa: quando eu saísse, eu iria voltar e tirar os outros dali”[1] – Marsha M. Linehan, criadora da Dialectical Behavior Theraphy (DBT), 2011, New York Times.

Marsha inclusive escreveu uma biografia onde dá mais detalhes sobre sua trajetória e como integrou diferente áreas de conhecimento que então culminaram no modelo da DBT.

Essa foi uma breve introdução sobre a DBT em seus aspectos mais gerais, e espero falar um pouco mais sobre por aqui!

Observação importante: se você não está sendo acompanhado por um profissional capacitado e tem experimentado pensamentos constantes ou têm forte impulso por suicídio, entre em contato imediatamente com o CVV (Centro de Valorização da Vida) pelo número 188.

Referências:

Linehan, M . M . (2018). Treinamento de Habilidades em DBT: manual de terapiua comportamental dialética para o terapeuta. Porto Alegre: Artmed. 2ª Edição.

Leonardi, J. L. (2018). A terapia comportamental dialética (DBT). In: Psicologia clínica: da graduação à pós-graduação (pp.95-103). 1ª Edição.

[1] http://mobile.nytimes.com/2011/06/23/health/23lives.html